terça-feira, 25 de novembro de 2008

Jogos da vida

No leito de um hospital um rapaz vai visitar sua namorada que está em coma, sempre levando flores e comentando sobre algo que aflige o seu coração.Sentado ao lado da cama da paciente, ele segura uma das mãos da jovem e começa a dizer:
Perto das montanhas, em algum lugar tocarei em seu rosto através do vento, apenas um tempo para tudo se quebrar, quantas vezes desistimos de nossos sonhos por caprichos do destino? Por quantas vezes ficamos imóveis a espera de alguma resposta vaga? Longe de mim esses sonhos mórbidos, longe de mim essa vida vazia. Cacos de vidros espalhados pelo chão iluminados como o sol, resplandece um futuro promissor. Bons tempos para se refletir, bons tempos. A grama que cobre o teu corpo a espera de uma chuva para alegrar nossos olhares, por quanto tempo tu estará atrás das montanhas minha querida? Por quanto tempo?Tempo...
Ontem, quando estava voltando para casa observei aquele velho cachorro, crianças correndo. Lembra como tu paravas docilmente pra cumprimentá-las?
Eu vejo o teu rosto aqui entre minhas mãos, teu corpo coberto com esse manto branco, tua boca sem vigor. Eu ainda esperarei pelo dia em que iremos passear juntos novamente minha menina. Pelo meu amor, por tudo que é mais sagrado, volte para o seu bom pastor. Eu te amo.
Nesse momento caem algumas lágrimas do jovem caem na mão da moça. Imediatamente surge alguma mudança no ritmo cardíaco dela.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

A perda


Na varanda da sua casa, a senhora triste diz para a ex-namorada de um dos seus filhos:
Meus olhos já não querem mais abrir, essa estranha sensação me persegue. Minhas mãos, não consigo mais senti-las. O vento me arrasta lentamente e eu vou seguindo deixando meus rastros que logo serão esquecidos e apagados.
Alguém me avisou que todos morreriam, mas não pensei que fosse ser tão precocemente. Meus avisos de nada adiantaram, eles entraram cedo na estrada e se foram. Restou somente esse fardo que eu carrego todos os dias devido à partida de meus queridos. Imaginava partir antes deles, mas não... Tudo é tão estranho, confuso. Ninguém pra me alegrar, não posso mais ver os sorrisos dos meus garotos, que tristeza meu Deus. Que tristeza!
Perguntamos-nos qual o motivo da vida ser tão injusta, meu coração quebrado almeja por alguma fuga. Não há nada que possa me alegrar, estou em luto. Minha vida se foi com o falecimento dos meus queridos filhos. Será que Deus realmente existe?
A garota abraça a senhora e diz:
-A cada flor arrancada há sempre uma enorme tristeza, a planta perde o brilho e a força. Porém ela não se deixa levar pelo que o mundo fez, arranja forças e eis que surge um novo broto. Não do mesmo jeito, nem do mesmo lugar, mas irá completá-la novamente. Pode demorar um pouco as pessoas não podem morrer estando vivas. Há sempre uma forma de tu deixares essa flor desabrochar. Eu perdi os meus pais muito cedo e também o amor da minha vida. Seu filho não há de querer ver a tristeza em seus olhos. Veja as estrelas, elas já morreram a milhões de anos e nem por isso deixamos de contemplá-las só que não devemos entender isso como um fardo e sim como uma forma de tentar rever nossos conceitos.
A senhora deixa algumas lágrimas caírem, contempla as estrelas e entra em casa.

domingo, 16 de novembro de 2008

Sépia

E Androceu estava agonizando, gritando e temendo em busca de uma solução. Quem ousou passar por aquele local no mínimo sentiu medo. Era entristecedora a situação. Vestido com farrapos, em um canto sujo de um local abandonado, iluminação precária. Tons em sépia, era assim que seguia a tua vida. Seu olho esquerdo cego, sua leve demência incomodava os que se julgavam mais racionais, porém era dócil, simplesmente dócil. Assustava-se por qualquer movimento sutil, havia sofrido, não sei o quanto, mas para alguém chegar a esse estágio creio que tenha sido o bastante. E teus olhos suplicavam ajuda, as pessoas o julgavam, estava morto. Sua vida, sua história, nada tinha significado. Não entendia como havia chegado ali, não sentia alegria, ou simplesmente nem sentisse, talvez não tentasse sentir para não sofrer mais. Mas fingia seguir e continuava se arrastando. Parou na esquina, encostou-se na parede, alguns ratos passando dentre as tuas pernas e atirou-se no meio da rua. Nenhuma lágrima, nenhum enterro. Apodreceu sob o sol, tornando-se presa de urubus.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Mãos


Longe de mim suas mãos
Entre mim suas mãos
Nossas mãos entrelaçadas, as nossas
Uma, duas, três, quatro
As mãos que desfilam
Que deslizam
Que pagam
Que conspiram
Dormem, sentem e novamente dormem

domingo, 9 de novembro de 2008

Brincando de viver

Esse desejo de gritar, explodir, colocar fogo em tudo. Eu continuo me remoendo lentamente, tomando do meu próprio veneno, me dissipando. Fico parada por horas pensando no que poderia fazer, em que seria útil minha presença, prometo a mim mesma fazer coisas mirabolantes, simplesmente algo. Mas nada funciona, nada se move. Procuro reorganizar minha vida, sou muito fraca pra isso. E não suporto, simplesmente não, e vivo a me questionar mesmo que seja sem fundamentos ou com muitos. Mas não sei se vivo. Todos os dias procuro tentar evidenciar algo que me marcou, mas lembranças me fogem a mente, tudo se escapa. Eu sei que sou mais uma, sei.
Há uma angústia, algo que eu não sei mais bem explicar, nada me motiva a alegria. Já não sinto muita vontade de manter diálogos, nem de expressar minha opinião. Quero me manter calada, e assim permaneço, mas até isso me corrói, pois chega a um ponto limite onde eu estou sujeita a críticas e comentários, mas isso pouco me importa. Só quero e vou fazer as coisas quando quiser. Mesmo que seja quase nunca, mesmo que seja só.
Cada dia que passa eu detesto mais as pessoas, eu me detesto, talvez eu distorça a realidade, ou simplesmente tudo não passe de um mero jogo. Não sei.

Simples destino
Lágrimas dentre olhares trêmulos
Sepultaram minhas primaveras correspondentes
Já não me vejo em todos os ângulos
As flores tornam-se inconscientes

O sol não nos contempla com alegria
Seus raios sugerem morte ao presente
E elimina o futuro automaticamente
Que triste dia para euforia

As rosas são queimadas
Os lírios são dispersos
Ouço apenas passos

Tudo soa com tristeza
Nada resplandece felicidade
Já estou indo tarde
Falta apenas um vagão

Menininha *----*



Besteirinha feita por mim ;D

sábado, 1 de novembro de 2008

Salão de Sorrá


Parei por alguns instantes no topo da escada, mirei lentamente tudo que se encontrava abaixo .Não era felicidade aquilo que eu sentia, apenas uma apatia. Alguns poucos amigos que ali se encontravam me viram descer. Senti uma leve tontura, mas prossegui com a descida, cada degrau parecia querer engolir-me, eu não os via com nitidez, tudo parecia frio e distante. Encostei minha mão na parede, e prossegui. Apesar de aquilo me corroer eu continuava, continuava e continuava.
Quando dei por mim, já estava no térreo. Algumas poucas pessoas vieram me cumprimentar, outras passavam com suas amantes. Novos rostos, era sempre assim. Sentei em uma das poltronas com minhas pernas estendidas, fiquei observando aquilo tudo, imaginando se poderia ser diferente, quando ouço alguém dizer:
- Poderia ser,...
Era o Pedro, um homem com seus 28 anos, e eu a sua preferida.
Pedro: - Carmem, tu sabes que poderia ser diferente...
Sentou ao meu lado e colocou seu braço nos meus ombros. Nesse momento caíram algumas lágrimas, que ele cuidadosamente fez o favor de secá-las.
- Você sabe muito bem de tudo, e torna-se cada vez mais complicado quando alimentamos esse romance.
Ele começou a alisar meus cabelos.Quando surgiu uma voz, com tom de ordem:
- Aqui não é lugar para namoro, é pra trabalho se quiser minha prostituta que pague!
Era Madame Sorrá a dona do estabelecimento.
Pedro: -Não se preocupe senhorita! Como tu estás magnífica! Sempre, Sempre! Aqui está o valor para o quarto.
Pegou a minha mão e me levou até o cômodo.
Quando chegamos ao local, fui tirando minha roupa, era só fazer o serviço, usar alguma droga e descer novamente.
Pedro: -O que você está fazendo?
-Tu estás pagando pelos meus serviços.
Pedro: Sabes que eu não pago pra somente usufruir de ti. Vamos conversar...
-Conversar sobre o que? Sobre tu pagar minhas contas? Sobre fugirmos e termos uma vida diferente?
Pedro: -Justamente!
-Eu não me sinto digna de ser a tua esposa.
Pedro segurou nos meus ombros e disse:
-E quem de fato é digna, eu te amo e você me ama, eu pago e vamos embora!Ou você prefere essa vida que a mim?
- Não diga uma calúnia dessas, sabe o quanto gosto de tu, mas...
Pedro: Mas o que?
-É triste saber que eu não vou ser a esposa pura que todos sonham...
Pedro: -Eu te conheci assim, não me importo com os sonhos dos outros.
Olhei para o relógio da parede.
-O tempo está acabando.
Pedro: -Vamos Carmem! Ou você por acaso não me ama?
-Lógico que te amo, por tudo que há de mais sagrado.
O tempo acabou e eu saí do quarto, Pedro em seguida.
Apesar de nos amarmos Madame Sorrá, não me venderia para aquele homem nunca, jamais que ela perderia a oportunidade de estragar a felicidade alheia e de lucrar algumas míseras.
Passado algum tempo surgiu alguém naquela cidadezinha, todos se perguntavam quem era e o que fazia. Ia todos os dias ao Salão de Sorrá, comia bebia, as outras garotas ficavam tentando atraí-lo, porém ele não partia para o segundo passo, ficavam somente pela recepção e depois ia embora. Sorrá ficando indignada com aquela cena diária e percebendo que ele poderia lhe proporcionar algumas quantias maiores fazendo-o ficar com as garotas, pediu para que todas o servissem. Eu estava angustiada, não queria dormir com outro homem, isso se ele aceitasse, pois me confortava saber que ele não tinha olhos para tais garotas, mas queria que Pedro chegasse logo e me tirasse daquele lugar.
Passaram as horas e ele não havia aceitado a cortesia de nenhuma. Madame Sorrá apertou o meu braço e com um empurro disse para ir até o local, retirar o que estava na mesa e perguntar se aquele senhor queria mais alguma coisa.
- Mais bebida?
Ele fitou-me dos pés a cabeça e disse:
-Não, mas quero a tua presença.
Ele me puxou e disse:
- Eu irei te tirar daqui, sou Álvaro um amigo de Pedro.
Ele pagou um quarto, contou-me o plano e na hora da descida foi ter uma conversa com Sorrá. Apesar de não querer vender-me, pois lucrava bastante com Pedro aquela quantia era absurda. Mandou uma das meninas me chamarem, chegando ao seu escritório:
- O que a Madame quer?
- Esse homem te comprou, sinceramente não sei o que ele viu em ti. Possuo garotas mais belas, porém dinheiro é sempre bem vindo.
Saímos daquele local fingindo ser um novo casal, todas as meninas conversavam entre si se perguntando o motivo, a causa, e derivados.
Na entrada do Salão havia uma carruagem, eu e Álvaro entramos. E lá estava Pedro nos abraçamos e ele perguntou:
-Carmem, quer casar comigo?