Na fúria, saiu
apressada e sem pensar de maneira coerente sobre o que lhe acontecia. Havia um
sabor opaco em si. Suas pernas estremeciam. Estava entre devaneios...
Nossa personagem
guardava sempre o melhor de si para os outros e, na penumbra, renunciava aos
seus mais sutis desejos. De renúncia em renúncia; castrou-se. Sua boca que
antes cantavam versos sobre a aurora foi ganhando o hábito de lentamente
emudecer. Falava miudinho, falava para si. Quando imaginava sair alguma voz,
era apenas sua alma ou mente conversando consigo mesma. Imaginava que os outros
a escutava. Imaginava que tudo o que era dito transformava-se em poesia. Apenas
imaginava.
Seu reflexo e sua
dor eternizados na imagem que observara no espelho. Esse tempo de singela
restrição vocal tornou-se propício para que mudanças sensíveis ocorressem em
seu corpo. Sua boca colou-se de maneira lenta e imperceptível. Seus lábios
uniram-se ao palato e, só assim, em seu reflexo, percebeu que a sua voz ecoava
internamente. Queria gritar, pedir ajuda; não podia. Tornara-se sem voz, não
podia chegar aos outros.
Seu corpo agora se
encontrava marcado pelas linhas da vida. Nós que se entrelaçaram a sua
existência, ao seu âmago. Nem seu choro, nem sua reza poderiam proporcionar a
sua salvação.
Roberta
Melo