quinta-feira, 27 de setembro de 2012

O Capote - Nicolai Gógol


      Essa novela russa escrita por Nicolai Vassílievitch Gógol tem como cenário principal a vida de um funcionário público que, com sua vida pacata e medíocre, tem tudo mudado por causa de um capote (uma casaco russo). Nicolai Gógol é um escritor realista, obviamente russo, e tudo em sua obra será um reflexo daquele período sem contos de fadas excessivos. 
      Percebemos aquele personagem quase mudo, fiel ao seu serviço, com um salário ínfimo e uma vida relativamente precária, não feliz ou infeliz, e sim, apático.  Muitos irão descordar e achar até relativamente irreal, pois, como seria uma pessoa assim?  Há uma 'bondade' por parte do escritor, pois, esse personagem que ninguém lembra, possuindo uma profissão de funcionário público, que não tinha muita relevância na época, pensamos, como o ser humano poderia aguentar tanto? Talvez essa bondade resida no fato de querer fazer com que nós, pobres leitores, viéssemos a sentir pena dessa criatura em detrimento da feroz classe rica. 
       Como consequência disso tudo podemos levar em consideração que quando e onde há seres humanos com instintos de egocentrismo e que dão enorme merecimento ao dinheiro e prestígio social, realmente, não é difícil de imaginar uma cena semelhante. Há tantas pessoas sem som, muito menos voz e fala... O que dirá, não é mesmo?

sábado, 22 de setembro de 2012

A tosse



      Sua tosse ecoava naquele pequeno quarto com paredes amarelas. A vontade de colocar para fora todos os órgãos e lavá-los em água corrente para, talvez assim, fazer com que esse incomodo passasse era imensa. Tossia parecendo um cachorro ou gato indefeso buscando alguma ajuda e clamando por atenção. Silêncio. Somente o som de uma doente que provavelmente não morreria, mas, que além de estragar com o seu próprio sono, atrapalhava o dos vizinhos.
    Levantou-se meio que cambaleando do seu colchão velho procurando por algo que pudesse aliviar. Tocando em todos os locais daquele cômodo sentiu a perna dele. Lembrou-se de como haviam chegado efusivos naquela noite, porém, o coitado apagou direto. Nem deu boa noite. E agora estava lá espatifado sem notar os pequenos tormentos da dona daquele quarto.
        Encontrou algumas cartelas de comprimidos que as propagandas estimulam a comprar, mas, que ninguém vê resultado algum. Talvez aquele placebo funcionasse para algo, pensou.  Tomou o remédio junto com a água que sempre deixa em sem quarto. Procurou repousar. Olhou novamente para o rapaz através da pouca iluminação que aquele local recebia do ambiente exterior. Não o imaginava tão sereno. Talvez nem recordasse do seu nome, mas, até lá seria um novo dia.  Novos pequenos problemas. E, naquele momento, esperava apenas que aquela tosse fosse embora.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Cansei


Cansei
Estagnei no muro
Acionei o mudo
Fiquei

Vivi a sonhar
A perceber 
Lamentar
Cansei

Notei
Não era de hoje
Esse eterno entristecer
Por isso, cansei

Não tinha 22
Não tinha 20
Não tinha nem 16
Era apenas 6

E em minhas memórias
Sempre entristecendo
Cantando as mesmas rimas e tormentos
Cansei

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Mensagens Antigas


  


 Desci as escadas lentamente para pegar o que faltava de sacolas dentro do carro. Chovia muito. Infelizmente as obras não finalizadas da área externa da casa estavam incompletas, o que tornava muito mais penoso atravessar.
   O saco plástico marcando e calejando a minha mão tornaram-se foco da minha agonia e irritação além das gotas de chuva no corpo inteiro. Eu já previa uma “maravilhosa” gripe...  Para o meu alívio era a última remessa. Fechei o carro. Refiz o trajeto; coloquei o restante das sacolas junto das outras: em grupo e encostadas na parede. Sentei no sofá. Lembrei que estava molhada o suficiente para piorar a minha saúde.
   No banheiro tentei relembrar dos momentos tristes e alegres da minha rotina, dos meus relacionamentos falhos, dos produtos que havia comprado. Qualquer filosofia de vida em pensamentos de chuveiro parece tornar-se magnífica e instantaneamente há alguma solução para todos os dilemas cotidianos. Sequei o meu cabelo, coloquei a minha roupa e rumo a mais uma aventura diária: arrumar os produtos comprados.
   Alimentos, maquiagem, utensílios domésticos e sapatos. Tudo o que estava ao meu alcance. Guardei os alimentos, a maquiagem, os utensílios domésticos e provei os sapatos. Retirei a maquiagem que tinha guardado e voltei a testar. Realmente era boa, mas o efeito na loja parecia melhor. Fiquei me olhando no espelho...
    Preparei algo para comer, mas, talvez, não estivesse com tanta fome. Busquei algo para beber, mas, não tinha tanta sede. Desejava esquecer certos “poréns”, logo, deveria ser alcoólico.
    Sento na cama e troco de canal. Troco de canal. Novamente...
    Reviro o celular ao avesso para ver as mensagens antigas. Para ler algo que demonstre carinho suficiente por mim. Lembro dos amores, ... Aih,... Os amores! Da mudança de vida; do que eu colhi e plantei para mim.
     Ainda é sábado. Talvez eu realmente não quisesse ficar em casa. Medo de me expor a essa leve solidão; receio de perceber a vida.
     Coloco alguma roupa que ofusque o meu aspecto apático e alguma maquiagem que contenha as cores perdidas do meu olhar.
      Talvez ele realmente venha me ver hoje. Disse que sentia saudades de mim...