Desci as escadas lentamente para pegar o que faltava de sacolas dentro
do carro. Chovia muito. Infelizmente as obras não finalizadas da área externa
da casa estavam incompletas, o que tornava muito mais penoso atravessar.
O saco plástico marcando e calejando a minha mão tornaram-se foco da
minha agonia e irritação além das gotas de chuva no corpo inteiro. Eu já previa
uma “maravilhosa” gripe... Para o meu
alívio era a última remessa. Fechei o carro. Refiz o trajeto; coloquei o restante das sacolas junto das outras: em grupo e encostadas na parede.
Sentei no sofá. Lembrei que estava molhada o suficiente para piorar a minha
saúde.
No banheiro tentei relembrar dos momentos tristes e alegres da minha
rotina, dos meus relacionamentos falhos, dos produtos que havia comprado.
Qualquer filosofia de vida em pensamentos de chuveiro parece tornar-se magnífica
e instantaneamente há alguma solução para todos os dilemas cotidianos. Sequei o
meu cabelo, coloquei a minha roupa e rumo a mais uma aventura diária: arrumar
os produtos comprados.
Alimentos, maquiagem, utensílios domésticos e sapatos. Tudo o que estava
ao meu alcance. Guardei os alimentos, a maquiagem, os utensílios domésticos e
provei os sapatos. Retirei a maquiagem que tinha guardado e voltei a
testar. Realmente era boa, mas o efeito na loja parecia melhor. Fiquei me
olhando no espelho...
Preparei algo para comer, mas, talvez, não estivesse com tanta fome. Busquei
algo para beber, mas, não tinha tanta sede. Desejava esquecer certos “poréns”,
logo, deveria ser alcoólico.
Sento na cama e troco de canal. Troco de
canal. Novamente...
Reviro o celular ao avesso para ver as
mensagens antigas. Para ler algo que demonstre carinho suficiente por mim.
Lembro dos amores, ... Aih,... Os amores! Da mudança de vida; do que eu colhi e
plantei para mim.
Ainda é sábado. Talvez eu
realmente não quisesse ficar em casa. Medo de me expor a essa leve solidão;
receio de perceber a vida.
Coloco alguma roupa que ofusque o meu
aspecto apático e alguma maquiagem que contenha as cores perdidas do meu olhar.
Talvez ele realmente venha me ver hoje.
Disse que sentia saudades de mim...
Um comentário:
ótimo conto Kel, no momento que li me senti no meio da cena. Parabéns!
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