No dia 14 de março é comemorado o dia Nacional da Poesia ( data essa que é comemorada em homenagem ao nascimento de Castro Alves) e o Brisa de Palavras como forma simbólica de comemoração colocará o poema Vozes d'África.
Vozes d'África Deus! ó Deus! onde estás que não respondes? Em que mundo, em qu'estrela tu t'escondes Embuçado nos céus? Há dois mil anos te mandei meu grito, Que embalde desde então corre o infinito... Onde estás, Senhor Deus?... (...) Minhas irmãs são belas, são ditosas... Dorme a Ásia nas sombras voluptuosas Dos haréns do Sultão. Ou no dorso dos brancos elefantes Embala-se coberta de brilhantes Nas plagas do Hindustão. (...) A Europa é sempre Europa, a gloriosa!... A mulher deslumbrante e caprichosa, Rainha e cortesã. Artista — corta o mármor de Carrara; Poetisa — tange os hinos de Ferrara, No glorioso afã!... Sempre a láurea lhe cabe no litígio... Ora uma c'roa, ora o barrete frígio Enflora-lhe a cerviz. O Universo após ela — doudo amante — Segue cativo o passo delirante Da grande meretriz. ....................................... Mas eu, Senhor!... Eu triste abandonada Em meio das areias esgarrada, Perdida marcho em vão! Se choro... bebe o pranto a areia ardente; Talvez... p'ra que meu pranto, ó Deus clemente! Não descubras no chão... (...) Como o profeta em cinza a fronte envolve, Velo a cabeça no areal que volve O siroco feroz... Quando eu passo no Saara amortalhada... Ai! dizem: "La vai África embuçada No seu branco albornoz..." (...) Não basta inda de dor, ó Deus terrível?! É, pois, teu peito eterno, inexaurível De vingança e rancor?... E que é que fiz, Senhor? que torvo crime Eu cometi jamais que assim me oprime Teu gládio vingador?!... ........................................... (...) Vi a ciência desertar do Egito... Vi meu povo seguir — Judeu maldito — Trilho de perdição. Depois vi minha prole desgraçada Pelas garras d'Europa — arrebatada — Amestrado falcão!... Cristo! embalde morreste sobre um monte... Teu sangue não lavou de minha fronte A mancha original. Ainda hoje são, por fado adverso, Meus filhos — alimária do universo, Eu — pasto universal... Hoje em meu sangue a América se nutre — Condor que transformara-se em abutre, Ave da escravidão, Ela juntou-se às mais... irmã traidora Qual de José os vis irmãos outrora Venderam seu irmão. ......................................... Basta, Senhor! De teu potente braço Role através dos astros e do espaço Perdão p'ra os crimes meus!... Há dois mil anos... eu soluço um grito... Escuta o brado meu lá no infinito, Meu Deus! Senhor, meu Deus!!... São Paulo, 11 de junho de 1868.
Castro Alves
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5 comentários:
Eu já havia lido essa poesia antes, belíssima
Beijoos!
http://simplesglamour.blogspot.com
Não sabia que hoje era o dia da poesia, muito legal.
Adorei o poema!
Bem bonita a poesia, eu gosto! Beijão, beauty-habits.blogspot.com.br
Oi roberta tudo bem?
Nunca fui uma grande fã de poesias, mas não minto que algumas simplesmente são perfeita. A exemplo dessas perfeitas estão a do meu querido Shakespeare e também a do grande mestre Castro Alves. Esse poema é lindo.
Abraços,
Amanda Almeida
Olá
Te confesso que não sou a maior fã de poesias, mas achei essa linda.
Beijos
cocacolaecupcake.blogspot.com.br
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