quinta-feira, 14 de março de 2013

Dia Nacional da Poesia


No dia 14 de março é comemorado o dia Nacional da Poesia ( data essa que é comemorada em homenagem ao nascimento de Castro Alves) e o Brisa de Palavras como forma simbólica de comemoração colocará o poema Vozes d'África.






Vozes d'África

Deus! ó Deus! onde estás que não respondes?
Em que mundo, em qu'estrela tu t'escondes
Embuçado nos céus?
Há dois mil anos te mandei meu grito,
Que embalde desde então corre o infinito...
Onde estás, Senhor Deus?...

(...)

Minhas irmãs são belas, são ditosas...
Dorme a Ásia nas sombras voluptuosas
Dos haréns do Sultão.
Ou no dorso dos brancos elefantes
Embala-se coberta de brilhantes
Nas plagas do Hindustão.

(...)

A Europa é sempre Europa, a gloriosa!...
A mulher deslumbrante e caprichosa,
Rainha e cortesã.
Artista — corta o mármor de Carrara;
Poetisa — tange os hinos de Ferrara,
No glorioso afã!...

Sempre a láurea lhe cabe no litígio...
Ora uma c'roa, ora o barrete frígio
Enflora-lhe a cerviz.
O Universo após ela — doudo amante —
Segue cativo o passo delirante
Da grande meretriz.

.......................................

Mas eu, Senhor!... Eu triste abandonada
Em meio das areias esgarrada,
Perdida marcho em vão!
Se choro... bebe o pranto a areia ardente;
Talvez... p'ra que meu pranto, ó Deus clemente!
Não descubras no chão...

(...)

Como o profeta em cinza a fronte envolve,
Velo a cabeça no areal que volve
O siroco feroz...
Quando eu passo no Saara amortalhada...
Ai! dizem: "La vai África embuçada
No seu branco albornoz..."

(...)

Não basta inda de dor, ó Deus terrível?!
É, pois, teu peito eterno, inexaurível
De vingança e rancor?...
E que é que fiz, Senhor? que torvo crime
Eu cometi jamais que assim me oprime
Teu gládio vingador?!...

...........................................

(...)

Vi a ciência desertar do Egito...
Vi meu povo seguir — Judeu maldito —
Trilho de perdição.
Depois vi minha prole desgraçada
Pelas garras d'Europa — arrebatada —
Amestrado falcão!...

Cristo! embalde morreste sobre um monte...
Teu sangue não lavou de minha fronte
A mancha original.
Ainda hoje são, por fado adverso,
Meus filhos — alimária do universo,
Eu — pasto universal...

Hoje em meu sangue a América se nutre
— Condor que transformara-se em abutre,
Ave da escravidão,
Ela juntou-se às mais... irmã traidora
Qual de José os vis irmãos outrora
Venderam seu irmão.

.........................................

Basta, Senhor! De teu potente braço
Role através dos astros e do espaço
Perdão p'ra os crimes meus!...
Há dois mil anos... eu soluço um grito...
Escuta o brado meu lá no infinito,
Meu Deus! Senhor, meu Deus!!...

São Paulo, 11 de junho de 1868. 



Castro Alves

5 comentários:

Simples Glamour disse...

Eu já havia lido essa poesia antes, belíssima

Beijoos!
http://simplesglamour.blogspot.com

Marina Menezes disse...

Não sabia que hoje era o dia da poesia, muito legal.

Adorei o poema!

Unknown disse...

Bem bonita a poesia, eu gosto! Beijão, beauty-habits.blogspot.com.br

(Ava) Amanda V. Almeida disse...

Oi roberta tudo bem?
Nunca fui uma grande fã de poesias, mas não minto que algumas simplesmente são perfeita. A exemplo dessas perfeitas estão a do meu querido Shakespeare e também a do grande mestre Castro Alves. Esse poema é lindo.
Abraços,
Amanda Almeida

Bruna disse...

Olá
Te confesso que não sou a maior fã de poesias, mas achei essa linda.
Beijos

cocacolaecupcake.blogspot.com.br