terça-feira, 24 de maio de 2011

Um dia de domingo.




Suspiros entraram pela janela naquela tarde, a brisa era uma dádiva para compensar a temperatura, ela encontrava-se perfeitamente anestesiada com o calor daquele dia. O suor surgia em cada poro de sua pele fazendo-a lembrar dos momentos felizes que passava na infância brincando na beirada da piscina, 'época boa' - lembrava-se, não havia pudores com relação ao seu corpo que outrora era completamente reto e desprovido de outras coisas que surgiam, 'antes ele agradava muito mais', pensou.
Ficava olhando o movimento do domingo- assistia senhoras voltando, crianças indo-, nada fora do lugar. Sentindo-se uma completa espiã munida de um perfeito esconderijo, onde não havia ninguém que pudesse perceber seus olhares, e muito menos imaginar seus pensamentos.
Os cabelos embaraçados pela sutil despreocupação começam a voar, o calor mostra o real motivo para a sua existência, cortinas são levantadas, quadros caem na sala, vasos são derrubados... É hora de fechar as janelas- sua mãe avisa,... Mesmo vendo que já seria necessário segue tais ordens como se não tivesse escutado. Tranca-se em seu quarto e em seu silêncio, escutando as gotas de chuva no vidro resolve inventar outras maneiras de encarar a sua rotina.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Minha Alma


Por que você é a emoção dessa ração diária da qual me alimento
Tão dura e seca que por vezes cria calos e dói até existir
Não há mais vivacidade que em um corpo cremado
Nem a putrefação condiz,
Pois os vermes fazem a festa nessa cena
Que alma tardia para dizer que sonha
Para pensar que se pode amar
Depois de tanto tempo lacrada e quieta em seu canto
Calma, serena e quase sufocada pelo seu próprio calar
Eu abro meu peito para dignificar minha existência
Em mais uma tentativa de salvar o que sobrou do meu barco
Nessa vida que é só naufrágios e reconstrução

domingo, 15 de maio de 2011

Coisas Inalcançáveis


Dizem que a vida pode ser mais que um sonhar, mas por vezes nossos sonhos não inalcançáveis.
Falam-nos que para conquistar o que desejamos é necessário foco, disciplina... Mas por vezes nos sentimos tão pequenos a ponto de deixar nossos receios nos vencerem.
Pedem imensamente para guardarmos em nossa mente que o bem e o mal existem, guardamos tão bem que essa dualidade aparece constantemente em guerra em nosso ser.
Inclinam-nos na infância a pensar que seremos o futuro, que faremos coisas brilhantes, mas se discordamos de algo, geralmente na adolescência, nos julgam rebeldes, e se queremos fugir do sistema e tivermos mais de dezoito inevitavelmente somos vagabundos... Belo futuro.
Força facilmente comprada com sonhos jogados em baixo do tapete, pois somos obrigados a aceitar a realidade que nos desceram na garganta afirmando que era a nossa. De que adiantam tantas lutas, tantos projetos que nos fazem acreditar que um dia conseguiremos? De que?
E que sonhos? Ficam nos sonhos mesmo junto ao futuro que parece sempre inalcançável. Devemos sempre mudar os desejos que temos, pois várias vezes tornam-se demasiadamente difíceis de concretizar.
Vemos que toda aquela coisa que nos ensinaram na infância não faz sentido algum, foi como um brinquedo para aventuras mágicas.
Crescemos com uma bola de decepções, isso sim. Nos educam para sermos fracassados.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Dilema da Bebida


Cheio de tédio naquele transito infernal
Deseja a liberdade, queria ser uma ave de rapina
A mente está ali para lembrar ‘ Você não é!’
O sinal abre, só que uma parte lhe indica ‘ Há uma forma. ’
Marta está em casa, e você havia prometido não fazer mais isso
É neon demais para se controlar
Olha o relógio, ainda são 18:30
Finalmente decide ir a um bar
Mas se condiciona: ‘Somente um copo... O último!’
‘Depois vou enfrentar a quarentena’
Sua garganta estava seca, tinha 2 semanas que não colocava nada na boca
O médico havia proibido, mas que mal tem?
Vai morrer de qualquer jeito
Pede uma vodka
O suor surge em sua mão ao sentir o copo
Sente seu corpo liberar mais endorfina do que qualquer exercício físico que fez no ginásio
Chegam os amigos, vai-se a grana
‘É muita emoção para uma alma só.’
São risos demais, palavras sem sentido
Começa a achar o nó da gravata apertado
Respira fundo e seu coração palpita, palpita
Quase sem ar você põe a mão no peito
Pede uma água ao garçom
Dessa vez não morreu... Foi apenas um ‘susto’
Pega as chaves
‘Vou p’ra casa. ’
Tenta abrir a porta do carro
‘ Pra que diabos um espaço tão pequeno?’
...
...
‘Porra! Finalmente consegui!’
Seus amigos continuam conversando despreocupados
Senta no banco, sua cabeça roda mais que um pião
‘ Amanhã eu não bebo mais.’
Vomita em suas calças
Dorme com a cabeça no volante
E em algum lugar você lembra
‘ Amanhã começo a quarentena’