terça-feira, 23 de agosto de 2011

De repente, a vida.


Corria pela estrada. Ávida de desejo. Eu quero sentimentos! Cada gota de suor que surgia em seu corpo era uma demonstração de que estava viva. Ia o mais rápido possível. Seus pés cansados, doloridos, cheios de calos e o tênis nem ajudava, estava velho, mas isso não importava. O primordial era ficar no limite. O cabelo grudava em seu rosto e costas, queimados dos raios solares, cada vez que seguia em frente. Puxa um elástico do bolso e o prende, prosseguindo na mesma velocidade anterior. Yo quiero la vida! Quiero sentir!

Loucura é não saber identificar se realmente é um ser vivo, se abster de sentimentos. Abrindo os braços e gritando loucamente para nuvens, sol, pássaros e tudo mais que a escutasse. No ponto mais vazio que conseguiu encontrar. Amar não é um deserto! Eu não estou só! Uma agonia simbólica. Parou por um momento. Enterrando os pés na areia. Ajoelhando-se. Sentindo cada grão em sua mão. Revitalizando sua pele com as lágrimas espalhadas em seu rosto. Mordendo os lábios inferiores. O que é isso tudo? O que é? Levantou-se lentamente. Limpando a areia das mãos no short. Prosseguiu a corrida. Eu sou minha mente! Eu sou cada molécula em meu corpo! Sou cada forma física aparente dele! Minha idade, minha energia.

Sentou-se na grama contemplando tudo que havia ao redor. Encostada em uma árvore, respirando lentamente. Observou o dia correr tranquilamente depois de todo êxtase. O sol adormecia para a lua se colocar em seu lugar. E sua pele, cada pelo, sentindo a brisa lhe envolvendo. Pôs suas mãos deitadas na grama. Sentindo sua cabeça no tronco da árvore. Paz. Calma. Adormecendo. Seus membros inferiores relaxados. A terra moldava-se em seu contorno. Calmamente. Suavemente. Algumas gotas de chuva na madrugada purificaram sua boca ressecada pelas palavras grosseiras. Vagarosamente. Vagarosamente. Sentindo sua energia dissipando naquele ambiente. Fazendo parte de um todo. Dúvidas e ansiedades sendo aliviadas. Serenidade. Misturando-se com a natureza. Sendo um só. Fazendo parte daquele ambiente que lhe trouxe toda indagação. Para finalmente se inserir nela, ser ela, a vida. Servindo-lhe do melhor adubo. Sua carne.

Fim de um casamento.

Rasgue esse papel agora! Eu exijo!

Você acha que é quem, mal agradecido?

Eu não quero ver você vasculhando as minhas gavetas!

Pensa que estava lá? Engano seu. Estava jogado no chão.

E como se atreve abrir?

Faça-me o favor. A vítima dessa tragédia sou eu! Como você ousa tentar mudar a cena? Típico da sua pessoa.

A propriedade é minha, ou você esqueceu como se lê?

A casa é minha e tudo que entra e sai dela deve ser de meu conhecimento.

É violação de privacidade.

Isso é traição da sua parte e ainda tenta ser o pobre coitado.

Como se isso fosse algo de outro mundo.

Eu não estou acreditando na sua postura.

Você já deveria ter suspeitado antes de nos casarmos.

Como?

Esquece.

Pegou o papel. Saiu no carro. Foi embora.

Enxugou as lágrimas. Levantou-se. Tomou banho. Fechou a casa. Foi embora.

Haikais

Maré serena
No percurso vem lenta
Chuva nascendo


A flor que sorrir
No silêncio noturno
Orvalho fino


Nasce com brilho
Pelo nascente
Desperta o pássaro

Pássaro no ar
Pelas árvores verdes
Semente no chão


Primeiras tentativas de criar haikais.







Distanciando-me da Superfície

Kappa - Vicent Hui
2007




Em um tempo abandonado

Sonho que minhas emoções dançam em êxtase

Mas os labirintos fazem com que essa dança nunca chegue ao seu destino.

Acordo-me

Afastando os progressos

Sentindo rasgos

Não há uma maré favorável

É a minha guerra

É o meu ser

Não há sinais de vida nesse local

Os pássaros geralmente calam-se nas tormentas

E eu vou procurando embarcações perdidas

Sem a certeza de uma chave concreta

E a cada mergulho que eu dou

Sigo distanciando-me da superfície.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Ser, Amar e seus Problemas.

Os primeiros raios começaram a entrar pela janela, como era bom sentir aquele gostinho matinal, havia deixado para trás tudo que a triturava interiormente. Sua intenção era recomeçar a vida de um ângulo mais natural, amadurecendo de forma coerente e evitando desgaste emocional. Não queria mais desfrutar a tristeza por está fazendo algo indesejado, com isso, decidiu seguir novos rumos. A busca pela sensação de leveza era exatamente o que mais ansiava alcançar, mas tinha plena consciência que vivendo em ambientes nos quais a rodeava nunca iria chegar nesse estágio. Tendo percepção de que as mudanças devem ocorrer interiormente, procurava meditar constantemente sobre os acontecimentos de sua vida. A insensibilidade humana era o que mais a incomodava, rodeada por tantos, mas ao mesmo tempo extremamente vazia de afetos, dilema enfrentado por muitos, e com ela, claro, não seria diferente, pensava veementemente ser esse o principal mal da sociedade. Romper uma rotina não é fácil, apesar de ter sido inconstante por um bom tempo sobre fazer ou não a mudança, resolveu ter uma iniciativa firme, afinal, distanciar-se de toda aquela selva urbana é algo que requer muito mais força do que se imagina, é um modo vida que será sepultado. O êxtase a possuía fortemente, sentia-se como um pássaro liberto.

Dedicada a começar viver em um local mais arbóreo, dirigiu-se para a antiga fazenda da sua família, mal lembrava da existência dela na cidade, mas surgiu-lhe como ás para seu primeiro passo. Obter novos conhecimentos independente de pressões externas a excitava bastante, não estava satisfeita com a concentração de conhecimentos em apenas uma área, acreditava que aquilo era um ponto fundamental para sua elevação interior e com serenidade buscaria essa nova mulher que gritava por vida.

Nunca foi escrava dos bens materiais, muito menos era uma exímia consumidora, gostava apenas do essencial e, principalmente, de belos detalhes.

Sentou-se em uma cadeira observando a paisagem através da janela, como achava magnífica todas aquelas estufas. Alisando a mesa com o toque suave de seus dedos, percorrendo seus traços, sentindo delicadamente sua superfície, respirando o cheiro fresco que aquele ambiente proporcionava. Pegou uma maçã da cesta de frutas e dirigiu-se à porta. Em seu pensamento ansiava observar a plantação flores, porém, avistou ao longe um movimento estranho. Não era nenhum dos funcionários que a auxiliava no trabalho, já que era domingo, o dia de descanso.

Era poeira para tudo quanto é lado e foi aí que percebeu de quem se tratava aquele veículo escandaloso, seu ex-namorado, Artur. Não acreditava que logo ele teria coragem de sair do meio urbano sem quase informação nenhuma sobre o seu paradeiro para ir vê-la, essa seria uma circunstância absurda, mas como em termos de loucura o ser humano é mister, logo começou a achar a ideia normal e gostar do atrevimento do rapaz.

Estava afoito, suado e com uma aparência de cansado.

Olha só quem resolveu dá o ar da graça... Você está bem?

Estou exausto, mas pretendo conversar contigo antes de qualquer coisa.

Comece seu discurso.

Eu só queria que você entendesse que não fiz por mal, como você queria que eu aceitasse toda essa sua loucura? Sua vontade imensa de querer fugir da vida... Qualquer um pensaria que você não estava muito bem situada. Como eu poderia crer que fosse verdade?

Pois é... Como iria? Mas a confiança é o pilar primordial para um relacionamento, e isso foi o que você mais provou não nutrir por mim.

Sei que deveria ter te apoiado imediatamente, mas eu não queria abandonar minha vida, meus laços de amizades... Eu não estava pronto para romper de forma repentina.

Porém mostrou uma falta de apoio tremenda com quem você dizia ser primordial em sua existência. Sinceramente eu fiquei muito admirada por te ver aqui, até porque você recusou-se a vir morar comigo... Bem está vendo que não me encontro nenhum pouco desamparada, mas, com certeza, deve ter visto que a única pessoa que realmente te apoiava em seu mundo de razão era eu. Irônico não?

Não foi falta de amparo algum, eu percebi o quanto estava com saudade, até por que eu não acreditei realmente que você faria isso.

Então você pensa que minhas palavras são simplesmente sopradas ao vento, afinal, quando foi que você realmente me escutou? Diariamente eu questionava meu modo de viver e dar seguimento àquela amargura não era algo coerente.

Eu sei que tratei levianamente suas ações, porém, você também deveria ser mais comedida, onde já se viu tamanha extravagância? Vendeu todos os seus bens impulsivamente, como eu poderia avaliar essa situação? Para mim não passava de suas crises passageiras. Não via motivo algum para se sentir vazia, você sabe o eu penso com relação a isso. Considerei ser apenas uma frescura de pessoas que possuem tudo e decidem largar, mas eu vi que julguei um pouco prematuramente suas atitudes, vejo que está bem, se eu vim até aqui é por que te amo e para dizer que se você realmente quer viver dessa forma eu te apoio. Só não quero que você fique mudando sempre por que algo no local não a agrada.

Deveria ter conversado comigo anteriormente sobre os fatos, pois, se você pensa que eu não tenho bom senso, sinceramente, não sei o motivo pelo qual conviveu comigo durante esse tempo.

Vamos conversar sobre isso e esclarecer calmamente o episódio, há muitas coisas em aberto. Eu te amo, tenho plena consciência. Não podemos nos afastar por um mero descuido.

Sentaram em um banco próximo a entrada.

Estava muito estressada naquele ambiente. Qual o motivo de você ter negado a ideia de vida que eu quero levar?.

Compreendo sua insatisfação, porém com sua personalidade oscilando, será que você não desistiria desse território também e voltaria para o seu antigo lar? Você não passava muita certeza em seus atos, tanto que na hora da despedida apenas me telefonou afirmando que já estava partindo, como eu poderia ter uma afirmação concreta do seu amor? Uma imensa quantidade de atos deixou a desejar. Estou decidido a ter uma resolução firme do que você deseja desse relacionamento.

Aquele estresse todo me deixava sem uma direção firme de como levar os meus dias, queria fugir o mais rápido, tentei comunicar, porém você estava tão concentrado em seu trabalho que talvez não tenha percebido os sinais que eu tentei mostrar, gostei de sua atitude ao me visitar, mostra que você realmente se importa. É muito fácil julgar os defeitos alheios, sei que erro, mas eu tentei ter uma diálogo sério contigo, porém o tempo era ínfimo.

Acredito que todos nós perdemos um pouco com a realidade que nos destinam, pena eu não ter aberto os olhos antes para lhe ouvir, sua presença é fundamental em minha vida. Eu tenho razões imensas para largar tudo e procurar saber o que se passa com sua pessoa. Havia enxergado tudo como uma fuga premeditada, mas refleti que deveria existir mais razões. Confio que você não faria isso inconsequentemente.

Claro que não. Aqui é o local onde me sinto preenchida, queria que você tivesse comigo anteriormente, mas tivemos que romper de forma brusca por conta de sua falta de atenção. Eu não quero me sentir tão sozinha. Quero seguir um outro modelo de vida, não vejo benefícios algum para qualquer cidadão existindo daquela maneira, principalmente para uma criança. Quero que meu filho ou filha tenha liberdade para crescer em um ambiente livre e que deseje ter vida acima de tudo.

Entendo o seu ponto de vista. Lamento por não ter compartilhado com ele antes. Estou de acordo com sua análise, estávamos nos destruindo lentamente, e eu nem tive capacidade de perceber.

Todos ficamos desorientados, acreditamos que aquilo é a vida, mas na verdade é algo que escolhem para nós.

Almejo tanto para que nosso relacionamento melhore. Você é muito importante para mim, eu perdi tanto em sua ausência, fico sem alicerce algum.

Está realmente disposto a viver comigo nesse local independente do que você fazia em outro ambiente?

Que outro homem sairia predestinado em ver uma mulher que se encontra tão distante se não a amasse? Eu sou inteiramente apaixonado por sua pessoa, Marcela. Desejo sim viver contigo.

Artur, há tanto tempo você não diz coisas tão amorosas! Sinto-me até mais viva por perceber que você me ama com tanta força.

Ficamos perdidos na ganância, também me sentia infeliz, mas tentava cobrir toda a tristeza na busca por posições que a sociedade valorizasse, esquecendo completamente dos valores que me impulsionam a viver.

E por qual motivo você também não compartilhou da minha ideia?

Medo de que outra vida não tivesse tanto significado, mas nada disso tem mais sentido. Ficar longe de você é uma agonia impossível de sentir.

Daqui para frente o primordial será o 'Nós' e não o 'Eu'.

Estou completamente de acordo.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Astronaut Suicides - Neil Dacosta



'I understand that some believe that we should return to the surface of the moon but I have to say this bluntly, we have been there before.'


President Barack Obama
April 15th 2010


Após essa frase, muito indignado, o fotógrafo Neil Dacosta tentou retratar, como o próprio nome já diz, ' Astronautas Suicidas'... Já que não é todo dia que seus sonhos são destruídos por uma fala presidencial. O projeto é bacana!

Autumn Market - Phan Thu Trang