terça-feira, 20 de dezembro de 2016

(...) que pelo menos tenha sido em busca do amor!



Catrina estava ainda sonolenta, meu senhor, ela olhava para o teto agraciando-se com o movimento das suas mãos que tentavam acompanhar alguma música infantil que se instalara subitamente em sua mente contaminada pelo efeito do álcool.

Ela ainda era jovem, nobre colega, não havia muitas marcas peculiares do tempo em seu corpo, entretanto, em sua alma que outrora fora doce e frágil, cultivava raízes de lamentações provenientes dos momentos tortuosos que a vida ajudou a compor.

Diante das inúmeras paixões fugazes que arrancam as carnes do seu âmago e dilaceram sua alma, Catrina havia criado uma zona de romances etéreos. Entretanto, existia alguns questionamentos:  Há algum modo de se fazer presente na vida do outro ante a ausência de sentimentos?! E, talvez, elevar a um status surreal o seu próprio existir?!

Catrina acreditava que sim e, por isso, tentava esquivar-se das novas nuances do mundo.

Mas em cada esquina há maquiagens borradas e corações vazios. Sem amor, ou afeto. A carícia por vezes mais soa falsa do que verdadeira. Sendo mais uma noite tão esquecida quanto qualquer aceno perdido entre demais gestos.

Por todo sentimento depositado nas paixões escarlates, nos amores derramados e extasiados em si mesmo. Pelos hinos e canções apaixonadas, da sensação de regresso e repentina.  Catrina derramou a sua bebida nos escombros e destroços desse plácido momento que se foi antes do prenúncio e disse para si:

“Pelo amor e por amor! E mesmo que o amor não exista que pelo menos tenha sido em busca dele.”

Catrina então voltou a dormir, Senhor. E parece que havia um sorriso ilógico entre seus lábios.