domingo, 16 de agosto de 2015

Aline e a sua forma de amar.




Henri de Toulouse-Lautrec: The Bed, 1897.


                     Já era uma da madruga e Aline percorria pelas ruas da cidade procurando por alguém que pudesse pagar por horas de amor vazio com o seu corpo. Impossível suspirar ternura em seus dias atuais. Só restava, então, seguir pelas linhas dos seus instintos primitivos na busca de algo que completasse a sua essência. 
               Diante de tal impasse ela pediu ao primeiro que passou, em um gesto singelo, acender o seu cigarro e, com o seu famoso olhar promíscuo e a boca recheada de um batom vermelho barato, lançou-lhe as mais diferentes propostas. Não contente, ainda ofereceu o preço do seu amor com algum desconto na intenção de lucrar algo no dia. Conseguiu. 
                 Usando uma saia látex, decote vertiginoso e salto alto enlaçou-se ao mais novo parceiro e seguiu para o hotel mais próximo do seu ambiente de trabalho. O cheiro de mijo impregnado nas ruas se misturava com seu perfume francês e ao sabor da pastilha de hortelã que casualmente ganhara. Aline estava pronta para se entregar, render-se a mais uma nova-velha sensação. Não havia como parar, seu ofício lhe aprazia e a moral inconveniente desaparecia principalmente quando recebia o valor combinado.
               Se o fim justifica o meio, para ela tudo se encaixava como o resultado de uma cálculo matemático simples. Sem rodeios. Apenas como um método. Não importa se era, para o seu parceiro: Ana, Jéssica, Alice... O que importava era a fantasia vivida como forma de dissipar uma possível angústia ao sentir algum corpo vivo perto do seu. Com o intuito de não se perder em pensamentos considerados vulgares, ela tomava um gole de vodca e retocava o batom toda vez que isso acontecia. 
                  Aline ainda não sabia se o amor ou a vida eram apropriados para si. Simplesmente desejosa de se encontrar ou encontrar um mundo melhor apelou pelos meios mais práticos de saciar seus anseios. Não importava quantas palavras lhe cuspissem ou o quanto de dinheiro recebia ou deixava de receber, só pararia quando encontrasse alguma resposta para o que não se completava como um mero cálculo matemático.


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