sábado, 4 de julho de 2009

A carta. Parte I



Deitada na areia branca da praia observando as ondas do mar, em um dia nublado fora do comum, uma mão estende-se em minha direção segurando uma carta.
Mas o que é isso?-indaguei.
Era Carlos, um garoto pago para enviar recados, apesar de não ser comum ultimamente com a criação dos correios, ele sempre se oferecia a fazer esse tipo de serviço.
Mandaram entregar a você, Anne. O indivíduo pediu sigilo, afirmou que tu irás reconhecer ao ler as palavras. Tchau, Anne.
E saiu correndo, alguém esperava por ele ao longe, provavelmente o autor de toda aquela proeza. Mas como desvendar subitamente quem era?
Guardei aquela carta dentro de minha bolsa, quando chegasse em casa leria com atenção, naquele momento só estava disposta a desfrutar o vai-e-vem das ondas.
Aquele dia nublado não negava, passou alguns minutos e começou a chover, fui obrigada a sair dos meus pensamentos, mas nem por isso deixei me entregar as forças da natureza, levantei e segui o trajeto calmamente até a minha residência. As ruas haviam esvaziado como mágica, as gotas começaram a piorar. Passei a chave imediatamente na porta, a Cartucha , minha gata, encontrava-se estendida no sofá.
Dorminhoca - disse indo em direção a cozinha – Cartucha seguia-me prevendo os meus movimentos. Gatinha comilona! Entreguei a tua tigela de ração alisando suavemente a sua cabeça.
Acredita que hoje Carlos veio me entregar uma carta - ela olhou pra mim como se entendesse - não disse quem foi e provavelmente ele também não conhecia. Quem sabe, não é mesmo? Como será que adivinharei através da leitura quem escreveu essa carta? Bela tarefa me propuseram!
Fui para sala procurando por meu óculos de leitura, achando finalmente em cima de umas revistas. Comecei a ler :

“Dentre intensas primaveras nossos olhos foram completamente voltados ao nosso mundo. Mundo este repleto de magia e desejo. Cheio de sonhos, éramos jovens apaixonados. Sem receio dos perigos que nos cercavam, vivemos aquele intenso amor, mesmo não tomando o enredo esperado não consigo deixar de pensar em ti. Seu rosto, seu sorriso, me vem a mente em noites de angústia, dormindo ao lado de uma mulher que nunca almejei. Apenas um erro banal que cometi na vida por pressão que não podia suportar naquele momento. Você mesma disse que era para eu partir, e hoje estou eu desconsolado com tudo ao meu redor. Decepcionado com a vida que levo, com esse triste rumo do nosso amor. Nunca neguei o meu sentimento por ti, porém fui cruel conosco ao abdicar dele para seguir a vida que outros desejavam. Sei que depois de muito tempo, ambos seguimos nossas vidas, sei que você ainda mora na cidade em um lado onde possui poucas residências. Lembro-me que este era um dos seus desejos, ainda bem que um de nós está conseguindo as coisas que deseja. Pois tu sabes muito bem que meu único desejo era passar o resto dos dias contigo.”

Cartucha começou a andar entre as minhas pernas, peguei-a, coloquei no colo.
Está vendo no que essa brincadeira de viver me apronta. Depois de mais ou menos 10 anos surge com um “bilhetinho” desse. É pra chorar? Não, eu não irei!
Amassei o papel e o lancei em algum canto da sala, fui até a varanda respirar um pouco e observar a chuva. E lá estava ele, com ar de desespero.
Primeiro surge dizendo que se não o reconhecesse pela caligrafia e enredo era pra esquecê-lo, mas como? Ele sabia muito bem que era inevitável, mas fez questão de passar por uma de garoto esquecido. E agora encontrasse com ar de desesperado. Sinto pena, isso sim. – comentei com Cartucha. Era só o que me faltava! –completei.
Estava lá, parado, me olhando da varanda em plena chuva. Saí da varanda, desci as escadas, abri a porta.

Um comentário:

Khaos disse...

Haha, o passado não morre...
Interessante o começo da história, não dá pra saber o que vai acontecer direito, então espero a segunda parte =)

e não pare de escrever! ;**