domingo, 20 de novembro de 2011

A Casa Branca


Deram-me um martelo e um prego. Em seguida disseram: Corra!

Abri a porta do carro e fui pela estrada. Tempo nublado. Chuvoso.

Eu estava rubra de pavor, mãos trêmulas. Talvez fosse minha última aventura na vida. Apenas seguia na intenção de encontrar o meu destino.

Virei à esquerda quase batendo em um poste, por sorte não atrapalhou meu circuito. Segui direto até encontrar um vilarejo perdido. Encontrei a tão falada casa branca de cerca azul. Era pequena, humilde e lá possivelmente era a resposta para algumas coisas. Ao ver o sinal de um veículo próximo abriram os portões. Havia pessoas guiando sobre o local em que eu deveria estacionar. Estavam com capas de chuva e apenas apontavam com os braços. Não dava para distinguir o rosto.

A garagem era subterrânea havia cerca de 50 carros dos mais diversos tipos e valores estacionados. Fiquei ligeiramente impressionada, mas não havia nada para levar muita consideração.

Estacionei na vaga que restava. Desci do carro. Uma pessoa me esperava naquela espécie de cemitério de máquinas.

Vamos.

Mostrei o prego e o martelo. Perguntei o que faria com tais instrumentos.

Recebi apenas um:

- Guarde consigo.

Já não conseguia sentir meus pés e minhas mãos. Talvez estivesse arrependida. Talvez fosse preferível ser fraca e deixar-me contagiar imediatamente pela loucura que havia atingido o resto da população. Mas o que é loucura? Eu necessitava de paz, porém ninguém parecia mais deseja-la. Agora estava caminhando entre carros, em um estacionamento desconhecido, com pessoas que nunca havia visto antes e que lutavam por algo que nem sabia das consequências.

Subimos pelo elevador. Eu mantinha meus olhos presos no chão. Tinha receio de desvendar aqueles rostos, ou que o meu fosse desvendado. Não queria, talvez, ficar mais vulnerável do que já me sentia.

O elevador parou. Ele saiu e eu continuei seguindo.

Pediu para que eu mantivesse a calma que tudo ficaria bem.

Eu apenas consenti sem levantar a cabeça. E continuei o seguindo olhando para os seus pés.

O piso da sala era branco.

Finalmente tomei coragem para olhar o que havia naquele local.

Não havia janelas. Ainda estávamos em algum andar abaixo do solo. As paredes eram igualmente brancas e algumas almofadas de cores berrantes e colchões faziam parte da decoração.

Sentei-me em alguma delas por impulso e contraí meu corpo o máximo que pude.

Ouvi vozes entrando do ambiente.

V1 - Olha só essa aí era a que faltava?

V2 – É sim. Fui busca-la agora no estacionamento. Chegou e sentou.

V3 – Não assustem a menina com esses comentários. Vocês também ficaram meio assustados.

V1 – Assim?! Tsc...

A terceira voz aproximou-se de mim e perguntou:

- Trouxe os itens?

Eu – Sim.

V3 – Cadê?

Retirei o martelo e o prego da minha blusa e entreguei. Finalmente olhei para aquelas pessoas. Vestiam-se diferentemente. Fugindo completamente do padrão visto das ruas, chegava a ser excêntrico.

V3 – Seu nome vai ser Girassol. E não nos diga sua identidade original. Ninguém aqui está muito interessado. Meu nome é Tulipa e seja bem vinda. Se você está aqui é pelo motivo que de alguma maneira foi escolhida e quem passou as ferramentas, sabia o que estava fazendo. Agora vá trocar de roupa e chega de neutralidade. Assuma sua personalidade.

Eu, agora Girassol, segui a Tulipa no vestiário. Meu humor oscilava, não sabia se iria poder variar muito nas roupas, não sabia se teria meus remédios novamente. Então busquei vestir-me com alguma coisa que não sentisse repúdio posteriormente.

Botas pretas. Cabelo amarrado. Franja de lado. Vestido azul. Aplique vermelho no cabelo. Casaco preto. Dois tutus verdes embaixo do vestido. Até que não estava sendo tão ruim. Parecia uma boneca de terror.

Tulipa olhou, olhou...

- Até que faz sentindo. Vou apresentar você aos outros integrantes.

Fomos para a sala e lá havia mais quatro pessoas.

- Apesar de ter 50 integrantes, dividimos por grupos. É mais saudável. Disse-me.

Ficamos paradas por um tempo e ninguém se manifestou. Até que Tulipa, com sua voz macia e maternal, quase gritou.

- Minhas flores apresentem-se!

Sinceramente, eu não entendia absolutamente nada. Havia um clima de tensão espalhado pela cidade e todos ali agiam como se nada tivesse acontecendo.

Meu nome é Gardênia, levantou-se um rapaz de 1.70 de altura, usando roupas berrantes em tons de roxo e verde.

Meu nome é Cravo, era uma menina de seus 17 anos com roupas brancas, boca vermelha e cabelos pretos. Segurava a mão de Gardênia.

Inusitadamente alguém me segurou pelos ombros e disse. Tente adivinhar quem sou.

- Como eu poderia adivinhar?

- Menina sem graça. Eu sou o Lírio. E eu me visto de lilás e branco só para mostrar como sou uma pessoa suave.

Ele passava suas mãos geladas pelo meu queixo e pescoço.

-Suave?

- Não me questione.

Um rosto feminino surgiu de um ambiente escuro da sala.

- Eu sou a Rosa.

Rosa era uma mulher ruiva, extremamente linda. Vestia-se de vermelho. Estava sentada em um canto. Fumando. Apagou o cigarro. Levantou-se e veio me cumprimentar. Não dê importância. Estamos todos loucos.

Venha. Vou mostrar para você a realidade das coisas por aqui. A Tulipa é uma mentirosa.

Tulipa - Não confunda a cabeça da novata.

E eu a segui pelos corredores daquele estabelecimento.

Ela me indicava os ambientes como se desfilasse no ar.

- Ali fica o refeitório. Aqui os banheiros. Lá o salão de descanso. Às vezes podemos passear no parque. Outras não.

- Mas me disseram que aqui seria o campo de treinamento. Está havendo uma conspiração lá fora e ninguém faz nada?! Como vocês podem fazer isso? Agir de tal forma! Como admitem tal atitude?

Fiquei irritada e nervosa. Comecei a procurar uma saída naquele local. Deveria ter alguém com consciência que explicasse a todos que deveríamos salvar o mundo!

Corri pelos corredores gritando. Declamando todas as minhas indignações sobre o mundo. Quando dei por mim, pessoas dos outros quartos estavam na porta observando a situação.

Rosa continuou parada, encostada na parede, e rindo. Ela levava outro cigarro aos lábios.

Dois homens surgiram tentando me segurar.

Continuei a gritar a tentar livrar meu corpo daquelas mãos.

- Eu não quero ficar aqui! Eu não quero! – Continuava a gritar. Chorei. Sentia-me humilhada e vencida.Foi quando percebi que recebia uma injeção.

Tonta e com a cabeça pesada acordei. Em um quarto menor que o anterior, deitada em uma cama.

Meus colegas de grupo esperam. Cravo, Rosa, Tulipa, Lírio e Gardênia.

Quando perceberam meus movimentos foram mais próximo e espalharam-se ao redor como quiseram.

-Está bem, bonequinha? Disse Tulipa. Até que não dói tanto, não é? Depois você acostuma-se. Continuou.

-Não tente fugir, vai ser pior. Disse Cravo, colocando uma balinha de morango em minha mão.

Eu, Girassol, fiquei muito triste em saber onde estava. Não consegui entender muita coisa. Estava tonta com a medicação. Não sabia quem eram eles. Apenas compreendi que não tinha mais minha vida.

Lírio - Aqui é um centro de recuperação, Florzinha.

Rosa – Você não está louca. Eles só não nos querem por lá. Escondem-nos e vivem da maneira que querem. Você descobriu coisas que não era para se saber, agora irá arcar com as consequências.

Tulipa – Não assuste a menina!

Rosa – Todos nós passamos por isso. Logo ela irá se habituar.

Com um aperto no coração, algumas lágrimas tornaram-se inevitáveis. Recebi alguns abraços. E fomos para a sala branca novamente.

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