segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Mensagens Antigas


  


 Desci as escadas lentamente para pegar o que faltava de sacolas dentro do carro. Chovia muito. Infelizmente as obras não finalizadas da área externa da casa estavam incompletas, o que tornava muito mais penoso atravessar.
   O saco plástico marcando e calejando a minha mão tornaram-se foco da minha agonia e irritação além das gotas de chuva no corpo inteiro. Eu já previa uma “maravilhosa” gripe...  Para o meu alívio era a última remessa. Fechei o carro. Refiz o trajeto; coloquei o restante das sacolas junto das outras: em grupo e encostadas na parede. Sentei no sofá. Lembrei que estava molhada o suficiente para piorar a minha saúde.
   No banheiro tentei relembrar dos momentos tristes e alegres da minha rotina, dos meus relacionamentos falhos, dos produtos que havia comprado. Qualquer filosofia de vida em pensamentos de chuveiro parece tornar-se magnífica e instantaneamente há alguma solução para todos os dilemas cotidianos. Sequei o meu cabelo, coloquei a minha roupa e rumo a mais uma aventura diária: arrumar os produtos comprados.
   Alimentos, maquiagem, utensílios domésticos e sapatos. Tudo o que estava ao meu alcance. Guardei os alimentos, a maquiagem, os utensílios domésticos e provei os sapatos. Retirei a maquiagem que tinha guardado e voltei a testar. Realmente era boa, mas o efeito na loja parecia melhor. Fiquei me olhando no espelho...
    Preparei algo para comer, mas, talvez, não estivesse com tanta fome. Busquei algo para beber, mas, não tinha tanta sede. Desejava esquecer certos “poréns”, logo, deveria ser alcoólico.
    Sento na cama e troco de canal. Troco de canal. Novamente...
    Reviro o celular ao avesso para ver as mensagens antigas. Para ler algo que demonstre carinho suficiente por mim. Lembro dos amores, ... Aih,... Os amores! Da mudança de vida; do que eu colhi e plantei para mim.
     Ainda é sábado. Talvez eu realmente não quisesse ficar em casa. Medo de me expor a essa leve solidão; receio de perceber a vida.
     Coloco alguma roupa que ofusque o meu aspecto apático e alguma maquiagem que contenha as cores perdidas do meu olhar.
      Talvez ele realmente venha me ver hoje. Disse que sentia saudades de mim... 

Um comentário:

Camyla disse...

ótimo conto Kel, no momento que li me senti no meio da cena. Parabéns!