sexta-feira, 21 de novembro de 2008

A perda


Na varanda da sua casa, a senhora triste diz para a ex-namorada de um dos seus filhos:
Meus olhos já não querem mais abrir, essa estranha sensação me persegue. Minhas mãos, não consigo mais senti-las. O vento me arrasta lentamente e eu vou seguindo deixando meus rastros que logo serão esquecidos e apagados.
Alguém me avisou que todos morreriam, mas não pensei que fosse ser tão precocemente. Meus avisos de nada adiantaram, eles entraram cedo na estrada e se foram. Restou somente esse fardo que eu carrego todos os dias devido à partida de meus queridos. Imaginava partir antes deles, mas não... Tudo é tão estranho, confuso. Ninguém pra me alegrar, não posso mais ver os sorrisos dos meus garotos, que tristeza meu Deus. Que tristeza!
Perguntamos-nos qual o motivo da vida ser tão injusta, meu coração quebrado almeja por alguma fuga. Não há nada que possa me alegrar, estou em luto. Minha vida se foi com o falecimento dos meus queridos filhos. Será que Deus realmente existe?
A garota abraça a senhora e diz:
-A cada flor arrancada há sempre uma enorme tristeza, a planta perde o brilho e a força. Porém ela não se deixa levar pelo que o mundo fez, arranja forças e eis que surge um novo broto. Não do mesmo jeito, nem do mesmo lugar, mas irá completá-la novamente. Pode demorar um pouco as pessoas não podem morrer estando vivas. Há sempre uma forma de tu deixares essa flor desabrochar. Eu perdi os meus pais muito cedo e também o amor da minha vida. Seu filho não há de querer ver a tristeza em seus olhos. Veja as estrelas, elas já morreram a milhões de anos e nem por isso deixamos de contemplá-las só que não devemos entender isso como um fardo e sim como uma forma de tentar rever nossos conceitos.
A senhora deixa algumas lágrimas caírem, contempla as estrelas e entra em casa.

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